
A tradicional entressafra do açaí, marcada pelo aumento nos preços e pela escassez do fruto, pode se prolongar mais do que o previsto em 2025. Especialistas e representantes do setor apontam que fatores climáticos e logísticos ainda afetam a recuperação da produção, trazendo incertezas sobre a oferta para os próximos meses.
Segundo Nathiel Moraes, diretor de Pesquisas e Inovação do Instituto Açaí é Nosso, a safra de 2025 tende a repetir o atraso ocorrido no último ano, consequência dos efeitos do El Niño e das altas temperaturas.“Seria normal em maio e começo de junho já começar a safra, mas ano passado atrasou, e a tendência é que atrase novamente”, explicou.
Durante a última entressafra, o cenário foi especialmente difícil para os produtores. A combinação de seca prolongada e calor extremo comprometeu o desenvolvimento dos frutos, muitos deles secando ainda nas palmeiras. Como resultado, houve uma quebra generalizada na produção e queda significativa na renda das famílias extrativistas.
Já começamos a perceber sinais de recuperação, mas ainda de forma lenta. A última entressafra foi muito severa — a produção caiu cerca de 30% — e muitos açaizais ainda estão se recuperando do estresse hídrico, que pode levar de um a dois anos para normalizar", afirmou Moraes.
A alta demanda, especialmente impulsionada pela expectativa da COP30 em Belém, também pressiona os preços, segundo ele.
Além disso, os produtores enfrentam dificuldades estruturais, como a dependência de atravessadores e a precariedade na logística de transporte.“Esses fatores encarecem o processo e diminuem a renda no campo. Soma-se a isso a preocupação com a sustentabilidade, já que a pressão por volume tem estimulado a formação de monocultivos, ameaçando a qualidade do açaí a longo prazo”, alertou o diretor.
Volume abaixo do esperado após a Semana Santa
Rochinha Jr., da Associação da Cadeia Produtiva do Açaí de Belém, confirmou que o cenário atual ainda é de escassez.“O açaí ainda está escasso. A ação climática mudou muito. Pode ser que a falta se arraste um pouco mais”, afirmou.
Segundo ele, o preço do açaí já começou a cair: "Semana retrasada, no começo de abril, o açaí de Macapá estava a R$ 150 a R$ 160. Agora, está entre R$ 135 e R$ 140."
A redução, segundo Carlos Alberto, reflete o início da normalização da oferta, o que pode aliviar, mesmo que de forma gradual, o peso nos bolsos dos consumidores e comerciantes.
Segundo Everson Costa, supervisor do Dieese, a expectativa no final de cada entressafra é que haja um equilíbrio nos preços, mas ele alerta que o processo é lento.
“O açaí vai diminuindo de preço, mas isso é um processo que só ganha velocidade depois de junho”, explicou.
Atualmente, o preço segue em alta no mês de abril. Segundo Everson:“O mês de abril ainda vai trazer carestia no preço do produto. Nossa expectativa é que no mês de maio a gente comece pelo menos com um equilíbrio, para depois, quem sabe, termos uma queda.”
O economista destaca que a variável climática impacta diretamente na formação do preço: “No ano passado, a safra do açaí foi uma das piores dos últimos anos em função da seca. Tanto que a entressafra foi antecipada: em setembro, o açaí já estava caro, quando na verdade ele só começaria a ficar mais caro em outubro ou novembro”, concluiu.
Para o Dieese, a queda no preço do açaí vai depender do comportamento do clima e do resultado da produção nos próximos meses.